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fevereiro 1, 2016

[Entrevista] Bibliotecário Marcos Teruo Ouchi

Vocês não podem perder essa entrevista com o Bibliotecário Marcos Teruo Ouchi. Ele conta um pouco sobre sua experiência de vida no Japão e sobre como a Biblioteconomia ampliou sua visão sob o aspecto profissional. Fala também da sua experiência no curso de graduação na Universidade Federal de São Carlos.

1. Por que Biblioteconomia?

Foi minha primeira e única opção no vestibular depois que tive uma conversa com um mentor. Também sou técnico em eletrônica e trabalho com tecnologias de informações há quase 30 anos. Comecei a lidar com computadores com 8 ou 9 anos e com 14 arrumei meu primeiro emprego que foi como professor de programação. Sou autodidata e isso me fez conseguir excelentes colocações mesmo não tendo curso superior. Nunca me preocupei muito com a universidade, mas queria cursar uma, desde que fosse em uma que valesse a pena. Quando me mudei para São Carlos decidi que iria cursar Ciência da Computação. Daí, conversando com meu mentor este me disse que com esse curso estaria “chovendo no molhado”. Então, me indicou o curso de Biblioteconomia pois, apesar de ter um bom domínio da informática, eu precisava conhecer de onde vinha tudo isso (teorias de classificação, indexação, organização, armazenamento, processamento, disseminação, etc. que são amplamente utilizadas em sistemas de informação digital) e como a informação deve ser corretamente organizada. Foi paixão à primeira vista pois comecei a fazer correlações com inúmeros problemas que tive durante a minha carreira e que, se tivesse em mãos as teorias da nossa área, teria resolvido inúmeros desafios muito mais rapidamente e com custos menores.

2. Qual é a sua opinião sobre o futuro da nossa profissão?

Tende a ser estupenda, desde que assumamos nossos deveres, deixemos de nos esconder por trás de nossos “direitos” e abandonemos a ideia de que quem tem que nos defender são nossas associações e conselhos. Por favor, não me entenda mal. Acho importantíssima a existência de associações e organizações mas deixar para elas todo o ônus do futuro da profissão é, no mínimo, ingenuidade. As demandas da sociedade existem e devemos desenvolver competências de acordo com a parte dela que atendemos, conforme nos ensina D. Carminda, mas existe algo em comum em todas elas: nosso papel como criadores, gestores, implementadores e operadores de recursos que permitam aos nossos clientes obter conhecimentos que resolvam seus problemas.

3. Qual foi o seu maior desafio no trabalho?

O meu maior desafio profissional foi trabalhar no Japão. Não houve nada que não fosse diferente de tudo o que já fiz no Brasil. Foram três anos que valeram muito mais que qualquer universidade.

4. Você acha que o livro impresso vai acabar?

Não sei. É uma questão de futurologia e prefiro me limitar a ser bibliotecário. Brincadeiras à parte, já fiz alguns “posts” a respeito no Biblionuvem, mas ou foram satíricos ou a manifestação de um desejo pessoal. Sinceramento quero que eles se mantenham como são, assim como o vinil, a fita k-7 e os cartuchos de videogames. Pessoalmente, diminuí muito a compra de livros impressos e ampliei a de livros digitais. Isso não é recente pois há muito leio em qualquer suporte. Entre 2004 e 2007 tive um aparelhinho com uma tela de duas polegadas onde li centenas de livros em “formato .txt”. Queria muito as cinco leis da biblioteconomia impressa mas não o encontro mais.

5. Onde você fez sua graduação? Como foi o curso?

Na UFSCar. Achei o curso excelente com ótimos professores e muitas oportunidades de aprendizado dentro e fora da sala de aula. A única falta que tive durante todo o curso foi no dia em que minha filha recém nascida precisou ser internada. Dentro da sala de aula tivemos a maioria dos professores nos desafiando e estimulando debates muito profícuos e trabalhos desafiadores. Me lembro de em vários momentos termos discussões acaloradas, porém, com muito conteúdo. Fora das salas de aula fui diretor e presidente da Empresa Júnior e ajudei a reativar o Centro Acadêmico. Participei também de todos os eventos do curso tendo atuado na comissão organizadora de várias delas. Tomei parte voluntariamente do Programa Institucional de Iniciação Científica e Tecnológica da UFSCar, de projetos como o Repositório Institucional do Departamento de Ciência da Informação, da Biblioteca Virtual do Curso de Sistemas de Informações, do website do Departamento de Educação Física, da Unidade Especial de Informação e Memória (UEIM) e também participei do grupo de pesquisas NETORI. Publiquei, junto de meus professores, dois artigos em revistas científicas, sendo uma internacional. Ah, meu TCC também virou trabalho apresentado no ENANCIB. Não quis me dar ao luxo de perder tempo. Veja bem, não estou citando tudo isso para me vangloriar, mas para exemplificar dois pontos: 1. um curso universitário pode acompanhar os avanços tecnológicos e demandas da sociedade desde que haja boa vontade e coragem em inovar nas pessoas que formam seu corpo docente e profissionais na busca por criar condições, situações e desafios para os alunos. Isso a UFSCar tem de sobra. Os professores da UFSCar não se colocam como “Deuses” e admitem suas limitações. A postura deles é a de “vamos construir juntos” e isso faz muita diferença. 2. Quem entra em uma universidade precisa aproveitar cada oportunidade.

6. Você sempre trabalhou dentro da biblioteca? Se não, onde mais? Como foi a experiência?

Minhas experiências em bibliotecas foram como leitor e como estagiário. Nunca trabalhei em uma biblioteca tradicional embora tenha sido aprovado em vários concursos. Já trabalhei em agências de marketing e publicidade, gráficas, laboratórios e estúdios fotográficos, multinacionais do setor alimentício e tecnológico, academias, software houses, empresas de telecomunicações e concessionários de automóveis.

7. Qual foi o último livro técnico que você leu? Sugira uma leitura técnica.

O último livro técnico que li, dentro da área, foi Serviço de referência: do presencial ao virtual de Jean-Philippe-Accart. Recomendo fortemente a leitura de A Nova Desordem Digital de David Weinberger.

8. Qual livro você está lendo agora? Sugira uma leitura para lazer.

No momento estou lendo A Revolta de Atlas de Ayn Rand. Como leitura de lazer quero recomendar XÓGUM – A Gloriosa Saga do Japão de James Clavell.

9. Quem é seu mentor na Biblioteconomia, por que?

Meu mentor e orientador dentro da área de Biblioteconomia e Ciência da Informação é o Prof. Dr. Rogério Aparecido Sá Ramalho com quem tive a oportunidade de trabalhar em inúmeros projetos e que me ajudou durante toda a minha graduação.

10. Mande um recado para todos os bibliotecários do Brasil.

Certa vez perguntei ao Prof. Dr. Roniberto Amaral da UFSCar o que é competência. Ele me respondeu que competência é o que as outras pessoas atribuem a você, ou seja, é uma autoridade que lhe é atribuída. Há tempos que a autoridade no papel perdeu sua força. Estamos em uma época em que a autoridade é atribuída de acordo com os resultados que apresentamos. Não será uma lei que fará com que a sociedade atribua aos bibliotecários a autoridade que almejamos. Serão nossas ações voltadas a criar e gerir ambientes, ferramentas e ideias que contribuam para a solução dos problemas informacionais das pessoas e organizações levando-as a um incremento em seus estados de conhecimentos.

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