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outubro 19, 2015

O Profissional da Informação na Sociedade do Conhecimento

O desenvolvimento do trabalho com conhecimento em uma organização está diretamente relacionado ao desenvolvimento estratégico de suas competências. Os papéis de gereciamento de informações em uma empresa, segundo McGee e Prusak (1994) [0], cabem funcionalmente a dois grupos de informação: a equipe da biblioteca e a equipe da informática. Phahalad e Hamel (1990) [1] formulam o conjunto de competências nucleares (core competences) como forma de integração do aprendizado coletivo da organização e coordenação das diversas fases de produção e equipes múltiplas de tecnologias. Especialistas das ciências organizacionais enfatizam as novas competências organizacionais: flexibilidade, inovação, horizontalidade, criatividade, agilidade, compartilhamento de informação, aprendizagem, gestão do conhecimento, planejamento participativo, empowerment e estratégia competitiva.

As competências dos profissionais europeus estão descritas no Guide to Competencies for European Professionals in Library and Information Services e contemplam a adaptabilidade, habilidade analítica, prever ameaças e oportunidades, comunicação, habilidade crítica, mente investigativa, tomada de decisão, saber ouvir, trabalhar em equipe, iniciativa, habilidade organizacional, sensibilidade didática, perseverança, padronização e habilidade de síntese (Aslib consultancy publications, 2004) [2].

O contexto norte-americano para a área, embora diferente do europeu, apresenta diretrizes para a profissão expressos num guia preparado pelo comitê da University of Nebraska , Lincoln University Libraries (Avery, 2001) [3]. Este documento reúne competências para atender à compreensão comum das necessidades inerentes a todos os campos de atuação desses profissionais que assim se resumem: habilidades analíticas/solução de problemas/decisão; habilidades de comunicação; criatividade e inovação; proficiência e conhecimento técnico; flexibilidade/adaptabilidade; habilidade interpessoal; liderança; compreensão organizacional e pensamento global; domínio/responsabilidade/confiança; habilidade organizacional e de planejamento; administração de recursos; proatividade em relação às necessidades do usuário.

A biblioteconomia e ciência da informação no Brasil foram fortemente inspiradas no modelo norte-americano, embora os contornos da profissão aqui inserem-se no contexto da nossa economia emergente. Vários especialistas da informação brasileiros apontam as competências requeridas aos profissionais da informação contemporâneo apontando para : conhecimento interdisciplinar e especializado; capacidade de contextualização; capacidade de conceituação; conhecimento da demanda ou do cliente; domínio de ferramentas e de tecnologias de informação; adaptação ao novo, flexibilidade e abertura às mudanças; capacidade de gerenciamento; lidar com contradições e conflitos; relacionamento interpessoal, excelência na comunicação oral e escrita; lidar com as diversas habilidades funcionais; capacidade de aprendizado próprio e de facilitar o aprendizado dos outros; ser ético, proativo, empreendedor, ter energia, criatividade, consciência coletiva e visualizar o sucesso. (Dias 2004 [4]; Tarapanof, 2002 [5]).

Com o desenvolvimento econômico, científico e tecnológico dos últimos quinze anos novas oportunidade de inserção no mercado de trabalho, na área não governamental surgiram, propiciando o surgimento de novas denominações da profissão. Desta forma estes profissionais podem trabalhar em locais como: agências de publicidade, departamentos jurídicos de empresas, escritórios de advocacia, hospitais, editoras, bancos, indústrias, provedores de internet, livrarias, emissoras de televisão, jornais, entidades do terceiro setor. Ele pode até ter a sua empresa de consultoria, caso seu objetivo seja o de ser um empreendedor. O bibliotecário atua ainda na organização de acervos e sistemas de informação, na preservação da memória e da história de uma organização, pública ou privada.

Para ilustrar a inserção de bibliotecários como gestores de informação no Brasil, mais especificamente em São Paulo, baseei-me em reportagem da Gazeta Mercantil de 2009 [6] e destaco o depoimento de três mulheres profissionais da área . A área jurídica é uma das que mais emprega bibliotecários. Na cidade de São Paulo, cerca de 60 escritórios de advocacia empregam aproximadamente 200 bibliotecários como informa a bibliotecária Regina Celi de Sousa , gerente de conhecimento do escritório Machado, Meyer, Sendacz e Opice Advogados. O trabalho desempenhado pelo profissional é filtrar as informações de interesse do escritório e dos clientes, mas para isso é imprescindível ter conhecimentos na área. É preciso saber onde buscar as informações, com resultado confiável, que vá agregar valor aos serviços do escritório.

A bibliotecária Emilia da Conceição Camargo, gerente do centro de informações do Grupo Totalcom (que engloba entre outras empresas a agência de publicidade Fischer América), defende a expansão desse mercado, pelo fato de a globalização ter levado as diferentes organizações a aprimorarem os seus processos, produtos e serviços. Isso coloca a informação não só como insumo para controle, mas também como um instrumento importante para a tomada de decisões e a busca de inovações. “Em empresas de comunicação como o Grupo Totalcom, a busca de informação para atender futuros clientes e analisar a concorrência é um ativo. Assim, essas informações estão em sua maior parte ligadas à área de planejamento estratégico, mas também a estudos de tendências e áreas de pesquisa“, analisa Emilia.

Outra bibliotecária que encontrou nas empresas seu desenvolvimento profissional é Yara Rezende, gerente de informação na Natura, que emprega outros seis bibliotecários e um profissional oriundo da área de marketing. Yara afirma: “A formação universitária faz do bibliotecário um técnico. Para que ele seja qualificado a trabalhar em empresas, é preciso ter uma mente estratégica, voltada para o negócio, para lidar com as informações, e ter uma sólida formação cultural….Para mim, o importante é ter o acesso à informação, não o acervo, que para muitas empresas pode ser dispendioso. Criei, assim, o que se chama hoje de biblioteca virtual. … É preciso estar integrada aos processos da empresa, para antecipar informações, antecipar tendências. A informação é válida quando é subsídio para gerar conhecimento”.

Referências

[0] MCGEE, J. V.; PRUSAK, L. Gerenciamento estratégico da informação: aumente a competitividade e a eficiência de sua empresa utilizando a informação como uma ferramenta estratégica. Rio de Janeiro: Campus, 1994.
[1] PRAHALAD, C. K.; HAMEL, G. The Core Competence of the Corporation. Harvard Business Review, p. 3-15, May/June, 1990.
[2] ASSOCIATION FOR INFORMATION MANAGEMENT. Consultancy publications: the guide to competencies for European professionals in library and information services. Disponível em:http://www.aslib.co.uk/pubs/2001/18/01/aptitudes.htm Acesso em: 02 jun.2004
[3] AVERY, Elizabeth Fuseler; DAHLIN, Terry (Ed.). Staff development: a practical guide, 3. ed. Chicago: ALA Editions, 2001. Disponível em: http://archive.ala.org/editions/samplers/sampler_pdfs/avery.pdf. Acesso em: 26 jan. 2006.
[4] DIAS, Maria Matilde Kronka et al. Capacitação do bibliotecário como mediador do aprendizado no uso de fontes de informação. Revista Digital de Biblioteconomia e Ciência da Informação, Campinas, v. 2, n. 1, p. 1-16, jul./dez. 2004. Disponível em: http://www.unicamp.br/bc Acesso em: 26 jan. 2006.
[5] TARAPANOFF, Kira; SUAIDEN, Emir; OLIVEIRA, Cecília Leite. Funções sociais e oportunidades para profissionais da informação. DataGramaZero: revista de ciência da informação, v. 3, n. 5, out. 2002.
[6] CRUZ, Renato. NeoReader e os impressos digitais. Jornal O Estado de São Paulo, Seção Internet. São Paulo, 15 nov, 2008. Disponível em: www.oesp.com.br acesso em 15 nov. 2008.

Fonte

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