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abril 14, 2015

Relações históricas entre Biblioteconomia, Documentação e Ciência da Informação

Define-se Biblioteconomia, no seu sentido restrito, como a área que realiza a organização, gestão e disponibilização de acervos de bibliotecas, e a Bibliografia como a atividade de geração de produtos que indicam os conteúdos dos documentos, independente dos espaços institucionais em que estes se encontrem.

A Ciência da Informação tem suas raízes na bifurcação da Documentação/Bibliografia e da Recuperação da Informação (Information Retrieval). É uma ciência social cujo objeto é a informação, tendo início no campo da informação científica e tecnológica, passando a atuar também com a informação para fins educacionais, sociais e culturais. Apresenta interfaces com a Biblioteconomia, Ciência da Computação, Ciência Cognitiva, Sociologia da Ciência e Comunicação, entre outras áreas.

Outras abordagens sobre a constituição da Ciência da Informação incluem ainda áreas do conhecimento como a Administração, que busca fornecer formas otimizadas para a operação do fluxo da informação registrada, e a Editoração, na produção de documentos impressos e eletrônicos. Também podem ser citadas a Lingüística, Lógica, Psicologia, Estatística e Economia.

Considera-se que a Biblioteconomia deu origem à Bibliografia, que fundamentou a Documentação, que por sua vez, forneceu insumos à constituição da Ciência da Informação, também nomeada Informatologia. A Ciência da Informação é entendida como a preocupação com a unidade fundamental do saber, através de estudos interdisciplinares e de métodos como o estrutural. Engloba o conjunto das disciplinas voltadas para a produção, comunicação e consumo da informação que, chamadas por isso de ciências da informação, passaram a ser consideradas como uma só ciência da informação.

Dentre as abordagens mais consistentes sobre Ciência da Informação está a de Saracevic. Teórico de produção relevante no campo da Comunicação, considera o objeto da Ciência da Informação como o comportamento, as propriedades e os efeitos da informação em todas as suas facetas, tanto quanto os vários processos da comunicação que afetam e são afetados pelo homem. A Ciência da Informação estuda: (1) a dinâmica e a estática do conhecimento, ou seja, suas fontes, organização, criação, dispersão, distribuição, utilização, expressão bibliográfica e obsolescência; (2) os aspectos comunicacionais relacionados ao homem enquanto produtor e usuário de informação; (3) os problemas da representação simbólica da informação como na classificação e indexação; e, por extensão, (4) o funcionamento de sistemas de informação como as bibliotecas e os serviços de armazenagem, recuperação e processamento de dados (Saracevic citado por Enciclopédia Mirador Internacional, 1994, p. 6115).

Conclui-se que a Biblioteconomia, a Documentação e a Ciência da Informação são áreas que se relacionam conceitual e historicamente.

A Biblioteconomia tem origem efetiva na atividade de preservação das unidades do conhecimento registrado, alterando-se com o tempo por meio da democratização do acesso à educação e à cultura em atividade de gestão de serviços de biblioteca, porém sem constituir área cientificamente fundamentada no seu todo. É marcada pela intensa disseminação de seus equipamentos físicos, as bibliotecas, muitas das quais estabeleceram redes cooperativas de catalogação, cujos laços são essencialmente produtivos e formais, mas não estabelecidos com base na informação e seu contexto de produção e uso.

A Documentação, uma dissidência da anterior mas também componente dela, caracteriza-se pelo tratamento do conteúdo dos documentos, pela diversidade dos tipos de registros de informação com que trabalha e pelo uso otimizado das inovações tecnológicas em seus processos. Mesmo que críticas possam ser feitas, por exemplo, à limitada perspectiva comunicacional efetivada pelos antigos centros de documentação, seus preceitos baseiam-se na contextualização institucional e de público como critérios para a definição dos processos e serviços. Desenvolveu técnicas mais amplamente aplicáveis e atingiu significativo grau de sistematização de seus princípios e modelos. Deu insumo à Ciência da Informação que, entendida como ciência pós-moderna, portanto interdisciplinar e sem vinculação a paradigma único, reflete a mudança instaurada no século XX pela comunicação, pela tecnologia eletrônica e pelos fluxos de informação.

Finalmente, sendo a Biblioteconomia, a atividade mais antiga de organização de documentos, encontra na Ciência da Informação a possibilidade de construção de referenciais teóricos e de conquista de status científico, enquanto esta encontra naquela parte da história e das práticas que compõem aquilo que vem elaborando a partir de diversas disciplinas e aplicações. Já a Documentação, considerada em separado da Biblioteconomia, desenvolveu princípios e técnicas voltadas à organização e recuperação da informação, independente dos suportes e tipos documentais e com base nos contextos de aplicação e tipos de informação. Neste sentido, os princípios documentários permitem à Biblioteconomia maior abstração e adequação na elaboração de seus processos e serviços, e fornecem à Ciência da Informação insumos para uma construção científica sólida, ao conduzir a um foco ou núcleo de referência para a alocação integrada das demais disciplinas e aplicações.

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