Tema polêmico: a nuvem de livros realmente iria acabar com a pirataria? Em um país que algumas leis não são respeitadas, acesso a livros a baixo custo seria respeitado? No papel a ideia é muito boa, talvez não seja muito boa para as editoras. Sou a favor do acesso livre ao conhecimento, principalmente aquele conhecimento que pode trazer, de alguma forma, a evolução da humanidade. Mas acredito que também existam aqueles livros que são sim comercializáveis. A questão é: essa solução acabaria com o problema de pirataria? Vejam a opinião de Arnaldo Niskier, membro da Academia Brasileira de Letras (ABL).
O imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL) Arnaldo Niskier acredita que a Nuvem de Livros, o projeto de uma biblioteca virtual online criado no Brasil há três anos com grande sucesso, é uma ferramenta perfeita “contra a pirataria”.
Nieskier, que foi secretário de Educação, Cultura, Ciência e Tecnologia no estado do Rio de Janeiro, explicou à Agência Efe que esse projeto “não dá motivos para estimular a pirataria, porque, por cerca de três euros por mês (US$ 3,70), você pode ter acesso a informações e mais de 30 mil livros que estão na nuvem utilizando um computador ou um celular”.
A Nuvem de Livros, que, segundo Niskier, é um projeto que em breve será levado à Espanha e ao Peru, é uma biblioteca digital multiplataforma criada por Jonas Suassuna que é possível acessar de computadores e celulares conectados a internet.
“Esta experiência é uma solução que me parece inédita no mundo”, opinou o acadêmico. “No início do ano que vem teremos 2 milhões de estudantes, de gente interessada em ler os livros através da nuvem”. “É algo de muita qualidade e é um espetáculo”, acrescentou Niskier, que está de visita na Espanha.
O professor e acadêmico reivindica uma reforma no sistema educacional de seu país porque “nunca a educação e a cultura foi uma coisa prioritária para os governos”, acrescentou.
“No Brasil temos 60 milhões de estudantes em 200 mil escolas, mais que a população de muitos países do mundo, como a Espanha, mas não há uma educação de qualidade. Temos aulas durante três ou quatro horas por dia, quando deveriam ser oito. Os professores estão desmotivados e não recebem salários compatíveis com a dignidade humana”, destacou o imortal.
“Temos que trabalhar com uma pedagogia nacional, porque o Brasil tem uma personalidade própria. Olharam para teorias do exterior que em meu país não funcionam. Há anos focaram em gente como (Jean) Piaget, o gênio suíço que trabalhou sobre realidades europeias com crianças bem alimentadas que tinham a assistência de seus pais, e isso são coisas que não ocorrem no Brasil”, opinou Niskier.
Como acadêmico, reconhece que a modernidade entrou definitivamente na ABL, uma instituição avaliada positivamente por 84% da população brasileira, afirmou baseado em uma pesquisa recente.
“Nós temos no Brasil um dicionário com 94 mil entradas em língua portuguesa que serve para o mundo lusófono, e temos um site na internet com um sucesso extraordinário, feito por uma comissão de lexicografia e lexicologia com um grande equipamento eletrônico moderno que faz com que o público participe”.
“As pessoas podem fazer perguntas com seu computador que são respondidas todos os dias, inclusive aos sábados e domingos. Temos uma base de 5 mil questões por dia”, explicou.
Niesker, que também visitou a Academia da Língua Espanhola e conheceu como será a nova edição do dicionário da Real Academia Espanhola (RAE), que será lançado no próximo dia 16, afirma que o estudo da língua espanhola no Brasil é cada vez maior.
“No Brasil temos o português como língua oficial e durante muitos anos tivemos o francês como segunda língua, até a Segunda Guerra Mundial. Depois veio o inglês, mas o espanhol era quase desconhecido em nossas escolas, e agora, vendo a realidade objetiva, se vê que o interesse pelo espanhol cresce muito”.
“Muitos cursos de espanhol são oferecidos nas capitais brasileiras e eu acho que supera ao francês. Em pouco tempo foram criadas muitas oportunidades de negócio, de trabalho com o mundo hispânico. Muita gente vem ao Brasil porque a economia cresce e há boas oportunidades para fazer negócios”, concluiu o acadêmico.