[ENTREVISTA] Bibliotecária Silvana Rossi
Conheça a trajetória dessa bibliotecária que nessa entrevista nos dá uma aula de vida. Com vocês, Silvana Rossi, 32 anos de dedicação a nossa profissão e uma trajetória repleta de projetos inovadores e muito resultados positivos para sociedade.
1. Como começou sua trajetória na Biblioteconomia? Por que você decidiu fazer o curso? Onde você se formou e qual é a sua avaliação do curso a época?
Sempre gostei de ler, desde criança. Na minha casa tinham livros, mas não de literatura infantil. Me lembro que ficava folheando aqueles livros de medicina (do meu pai falecido quando eu tinha apenas um ano de idade) penso que ficava procurando uma ilustração. Me formei em 1979 na Faculdade de Biblioteconomia de São Carlos, um curso maravilhoso, ótimos professores que me deram todo conhecimento técnico para dar início em minha carreira. Bem jovem ainda por completar 21 anos comecei a trajetória na Faculdade de Administração, Economia e Ciências Contábeis de Franca, hoje a grande e sempre conceituada UNIFACEF. Não foi fácil, muita técnica e pouco traquejo mas é trabalhando que se aprende a trabalhar.
Em 1985 vim para minha cidade natal, quando a Prefeitura Municipal de São Joaquim da Barra precisava de uma Bibliotecária com formação para que pudessem assinar o convênio com a Secretaria da Cultura para a inclusão da nossa Biblioteca no Sistema de Estadual de Biblioteca Públicas- Siseb. São trinta e dois anos de muito amor e dedicação. Sempre incentivando a formação do hábito da leitura de uma forma prazerosa e significativa. O livro e as ilustrações que procurava naqueles livros de medicina encantam centenas de crianças que conquistamos com o Projeto o livro é meu amigo! Lê pra mim!
2. Você falou em incentivo a leitura. Sabemos dos vários benefícios que a leitura trás para qualquer ser humano. Fale mais sobre esse projeto, com que frequência ele ocorre? Como tem sido a resposta do público? E dos seus gestores? Aumentou a frequência de usuários na sua biblioteca? É possível verificar alguma melhoria objetiva nas pessoas ou na cidade?
Como já disse desde sempre fazemos mediação de leitura aqui na Estação com escolas da rede municipal e estadual, APAE, ONGs que trabalham com crianças e Orfanato sempre mediante agendamento. Ampliamos e resolvemos adotar uma estratégia para converter o momento de espera nas filas em momentos de aprendizado e crescimento cultural.
A ideia é muito simples, desde 2013 foi colocado à disposição alguns livros, revistas na sala de espera das Unidades Básica de Saúde (UBS); são diferentes publicações tratando de vários temas que podem ser lidos pelos usuários enquanto esperam serem atendidos; ainda quem quiser pode continuar a leitura em casa. Em 2015 já estávamos com 13 pontos de Caixa Estantes. Temos também, nas unidades próximo à Biblioteca Municipal, o Projeto “O livro é meu amigo! Lê pra mim”, a qual mediamos a leitura para um público diversificado. A periodicidade é semanal; manhã e tarde.
No ano de 2016 expandimos para o Pronto Socorro, Clínica Dentária e Laboratório Regional; um sucesso que tem causado um grande impacto na população joaquinense! Divulgamos o nosso espaço, levamos o folder para que façam a inscrição na Estação.
Contamos com 04 funcionárias que se revezam e também vale ressaltar que nos preparamos muito; fazemos um Grupo de Estudo de Literatura Infanto Juvenil semanal para aprimorar, atualizar e estimular a equipe. Sou muito criteriosa na escolha do livro, que deve ter um ótimo texto e o projeto gráfico de qualidade. O livro é o protagonista.
Como Gestora da Estação do Saber conto com o apoio da Assessoria de Educação e Cultura e com a Equipe para que possamos ampliar ainda mais o Projeto, 2017 já começou e com tudo!
Quanto a sua última pergunta, vejo que esse público das salas de espera criou um vínculo positivo com o livro, com a leitura e com a Estação do Saber mas quanto a formação efetiva de leitores; só o tempo dirá.
3. Qual é a opinião sobre o estado atual da profissão que você escolheu? Você acha que a Biblioteconomia tem espaço no mercado de trabalho no futuro? As novas tecnologias de informação vão nos tornar obsoletos ou vão auxiliar os bibliotecários no seu fazer?
Penso que se ainda não mudamos, temos que fazer logo, pois com o tsunami de informações que vivemos hoje, não vamos conseguir cumprir a nossa missão sem as novas tecnologias; temos que realizar atualizações continuadas tanto de equipamentos como capacitação da Equipe. Hoje temos múltiplas funções. Para dar um exemplo; aqui na Estação estamos com uma exposição, mediamos leitura, a Internet lotada e a circulação de material bibliográfico a todo vapor, sala de leitura com o mais variado público. É muito dinâmico o nosso espaço, trabalhamos muito e com diversas ferramentas. O Siseb nos oferece anualmente um calendário repleto de Cursos , palestras e oficinas que a Estação do Saber anualmente participa para atendermos cada vez mais a demanda dos usuários e também nos valoriza e fortalece. Não consigo pensar hoje na Biblioteca de quando comecei a trabalhar (todo processo técnico manual) e sem o computador para a realização da recuperação da informação que deve se rápida e eficiente para não espantarmos os usuários. Contamos com a Sala de Internet e Agenda Cidadã com 25 computadores e impressão gratuita de trabalhos, documentos dos mais variados e por isso além de ser gestora da biblioteca, sou gestora das tecnologias da informação e comunicação sendo, portanto, mediadora e facilitadora entre as tecnologias e os usuários, sempre contando com uma equipe antenada e disposta a auxiliar os usuários. Temos e-mail, página no facebook, whatsapp para facilitar a divulgação do nosso trabalho. Mas finalmente digo, somos aliados das tecnologias sem deixar o bom e velho serviço de referência e nunca deixar de ser um lugar de recepção afetuosa.
4. Qual é a sua opinião sobre o profissional de informação de hoje? Sabemos que as paredes das bibliotecas ficaram pequenas para nós, hoje podemos trabalhar de casa usando ferramentas de trabalho remoto. Você acha que a nossa profissão tem os dias contados, ou vamos nos adaptar? Por que?
Temos que ficar atentos, não ter medo das mudanças e enfrentar estudando, atualizando e comprometendo a Equipe para desenvolver práticas inovadoras e aí seremos cada vez mais necessários e indispensáveis. E também abrir as portas para novos usuários, que é a razão da biblioteca existir. Conhecer e ouvir a comunidade. Um novo tempo exige desafios! O dinamismo se faz necessário.
5. Sabemos que muitas notícias falsas são divulgadas nas redes sociais, vemos inclusive bibliotecários fazendo esse tipo de divulgação. Na sua opinião, qual é o papel do bibliotecário ou o que o bibliotecário poderia fazer para melhor informar seus usuários?
O nosso papel é alertar sim. Sempre falo para os usuários tomarem cuidado com falsas notícias e autoria errada de textos. Não podemos acreditar em tudo que lemos.Nós mesmos aqui já ficamos de saia justa, quando colocamos uma frase no Stand da Feira do Livro atribuída ao contista Mário Prata, quando ele leu disse: essa frase não é de minha autoria mas está na rede, tiramos imediatamente. É uma questão muito difícil.
6. Você teve algum mentor na Biblioteconomia? Se sim, quem foi? Por que?
Sim. A bibliotecária Adriana C. Ferrari que foi por muito tempo coordenadora da Unidade de Bibliotecas e Leitura do SisEB. Profissional brilhante que sempre foi incentivadora, inovadora, ousada e com um dinamismo que entusiasmava e contagiava a todos e a mim, em particular. Fez a diferença nas minhas ações como bibliotecária.
7. Qual livro você está lendo agora? Indique uma leitura de lazer e outra relacionado ao nosso trabalho.
Estou lendo no momento o e- book Holocausto Brasileiro, de Daniela Arbex que retrata os maus tratos no Hospital Colônia de Barbacena. A minha leitura de lazer é poesia; Carlos Drummond de Andrade, Adélia Prado, Manuel Bandeira; um oásis meio ao trabalho do dia a dia. Sempre recorro a poesia e ao Evangelho do dia. E muitos livros de literatura Infanto Juvenil para o trabalho de formação de leitor. O último livro que li relacionado a nossa profissão foi o livro “Os jovens e a leitura: uma nova perspectiva” de Michèle Petit, uma excelente leitura para todos os envolvidos com a promoção da leitura. Ah, e um tópico super motivador para nós bibliotecários “A hospitalidade do Bibliotecário”. Vai um fragmento só para atiçar quem não leu “…lembro de um bibliotecário …que amava sua profissão e que nos ensinou a amar a leitura, pois tinha uma maneira de contar muito bonita, natural”.
8. Quais foram os projetos que você desenvolveu que, na sua percepção, tiveram maior aceitação dos usuários? Você saberia dizer por que?
O Projeto de mediação de leitura; O Livro é meu amigo. Lê pra mim! é o trabalho que realizo há muitos anos, já teve outro nome; Biblioteca Viva. O Momento Poético também é muito aceito; é a leitura de um poema para os usuários na Sala de Internet Cidadã que fazemos uma vez por semana; manhã, tarde e noite. E vale ressaltar também o Projeto Palavras Passageiras que são textos, poesias, fragmentos de livros que colocamos nos ônibus circulares, Vapt–Vupt (ônibus municipal que faz Centro- Terminal Rodoviário) e em alguns Pontos de Leitura para a população em geral. São muito aceitos pelo encantamento que a literatura desperta nas pessoas. Temos muito retorno da população de todas as idades nesses projetos.
9. O espaço é seu Silvana, fale o que quiser sobre você, seu local de trabalho, quantos anos de carreira, os aprendizados que você gostaria de nos passar, divulgue seu projeto, fique a vontade.
O tempo passa… Há 32 anos trabalho nessa Biblioteca Municipal que passou por 3 diferentes espaços físicos, por diferentes gestores municipais e digo que não foi uma tarefa fácil, exigiu e exige sempre muita determinação, trabalho duro e educação continuada. Em 2012 viemos aqui para antiga Estação Ferroviária, por isso acrescentado ao nome da Biblioteca; Estação do Saber. Um novo tempo iniciou-se aqui, em parceria com a Usina Alta Mogiana que doou 4.596 novos títulos que se juntaram ao acervo que tínhamos, com a preocupação de colocar em circulação realmente as obras em bom estado de conservação e que atendam aos diversos grupos da população deixando as estantes com espaços para o crescimento das coleções.
E também a informatização, treinamento com um excelente software para a recuperação rápida da informação. Hoje temos uma política de doação. Sei das minhas limitações e as do serviço público mas apesar disso me considero uma bibliotecária dinâmica e a Biblioteca com uma coleção atualizada, de qualidade, computadores e acesso à Internet. Muitos projetos e porque não dizer; muito amor envolvido. A medida que os leitores crescem, independente do suporte da leitura, também crescem e variam as suas necessidades então fazer parte do SisEB, ler muito, inovar, ser sensível e proporcionar um lugar acolhedor para todos faz a diferença! Faço reuniões periódicas com a Equipe para avaliarmos o nosso trabalho e envolver todos num trabalho que transformam vidas, mudam histórias! Se passarem por São Joaquim da Barra-SP venham nos visitar! Será um prazer recebê-los para um cafezinho e se tiverem sorte se deliciarem com o nosso Momento Poético.