A introdução e expansão da imprensa no Ocidente foram sintoma e condição da mudança da relação entre os discursos sociais e a narrativa tradicional; a diversificação e a expansão das bibliotecas como públicas e especializadas geraram um campo novo de experimentação, promovendo o aparecimento de enfoques teóricos acerca da organização do conhecimento e da representação da informação. A passagem das “tecnologias culturais e de reprodução” às denominadas “tecnologias intelectuais” de suporte digital modificaria novamente as formas de inscrição, armazenagem e transmissão da produção social discursiva, modificando-se ao mesmo tempo as possibilidades e demandas de intervenção institucional, técnica e profissional no tratamento, circulação e gestão dessa produção.
Dispositivo de Informação
Podemos denominar as configurações combinatórias de linguagem, tecnologia e informação, de modo genérico, dispositivo de informação , incluindo as atividades e instituições sociais relacionadas com a recuperação e busca de informação.
Algumas das mudanças mais significativas desses dispositivos estariam hoje na coexistência de instrumentos e procedimentos formais e sistêmicos de recuperação de informação que utilizam linguagens de indexação, junto a recursos de acesso à informação mediada por dispositivos de processamento automático da linguagem natural. Passamos a utilizar, cada vez com maior freqüência, os motores de busca, os diretórios de acesso on-line, as bibliotecas digitais, os opens archives, que facilitam ou dão acesso direto a bases de dados de texto completo.
Busca de Informação
Em um novo cenário de buscas não-formalizadas por regras sistêmicas (information seeking), seria agora indispensável conhecer o modo como as pessoas definem, criam e buscam informação e as condições que facilitam ou inibem seu acesso nos cotidianos de geração e uso de informação. Marchionini ( apud Turnbull, 1995) define busca de informação (information seeking) como “um processo deslanchado propositivamente pelas pessoas para mudar seu estado de conhecimento”.
A busca de informação tem como centro o usuário e os procedimentos heurísticos com que indaga e manipula os recursos de informação:
- está orientada por uma finalidade que requer compreensão e mudança de um estado prévio de conhecimento;
- as estratégias de busca seriam mais oportunísticas, não-planejadas;
- atende a procedimentos e estruturas de interação;
- o julgamento de relevância acompanha cada passo da busca e pode efetuar-se pelo acesso direto ao texto completo, e não só a partir de suas representações.
Recuperação de Informação
Diferencia-se assim da recuperação de informação, que historicamente estaria concentrada nos sistemas de informação e teria todas ou algumas das seguintes características:
- trata-se de uma ação planejada de uso de fontes definidas de informação;
- implica algum conhecimento a priori da informação a ser processada;
- as questões devem ser traduzidas em uma linguagem do sistema e as estratégias de busca atendem a possibilidades preestabelecidas;
- o sistema possui formas de aferir os resultados e apurar o desempenho da busca.
Um sistema de recuperação de informação tem como objetivo o controle e acesso planejado a fontes determinadas de informação.
Níveis de linguagem
Para isso são necessários dois níveis de linguagem.
- Uma linguagem de informação preferencial construída e adotada pelo sistema, que vai agir como metalinguagem sobre as linguagens naturais ou profissionais utilizadas por suas fontes de informação e por seus usuários.
- Tratando-se de recuperação de informação em duas etapas, a linguagem formalizada do sistema (incluindo das linguagens documentárias aos metadados) constitui-se com a intenção de homogeneizar e regular os usos das linguagens de suas fontes e de seus usuários. Procede assim pela construção de uma linguagem sistêmica, equacionando aspectos econômicos e tecnológicos, a partir de variáveis que privilegiam, em geral, as invariâncias morfológicas e sintáticas da linguagem.
Acesso à Informação
Pode-se considerar quais as mudanças na definição das condições linguísticas de acesso à informação, em ambientes de redes eletrônicas, com a possibilidade de acesso a textos completos e hipertextos, as quais desativariam algumas das condições da recuperação da informação em duas etapas. Os pontos de acesso à informação em redes eletrônicas, por exemplo, poderiam considerar outros parâmetros discursivos ou textuais, sem privilegiar somente o nível das palavras ou do vocabulário e da terminologia.
As questões, além de complexas, dependem das culturas informacionais que se entrecruzam e justapõem na Internet. Nelas se estariam formulando e redefinindo novas “superfícies” metainformacionais, de modo que os novos dispositivos de recuperação e busca de informação são tanto condição quanto o campo de experimentação de novas práticas de informação.
Fonte: [1]
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