Biblioteconomia e empreendedorismo

As organizações e os profissionais de todos os setores, para se manterem competitivos no sistema de mercado, que exige constantes inovações, necessitam saber atuar em ambiente colaborativo na busca e na geração de novas oportunidades de trabalho, ou seja, precisam
ter perfil empreendedor. Esse perfil compreende competências relevantes como criatividade e liderança.

O perfil do empreendedor depende do contexto, uma vez que ele busca oportunidades e está envolvido com a criação de novos negócios em determinado ambiente. Todavia, empreender não significa somente criar novas empresas, significa também o indivíduo colocar em prática habilidades e competências na realização de algo novo na organização em que trabalha, tornando-se um intraempreendedor.

EMPREENDEDORISMO E INTRAEMPREENDEDORISMO

A literatura destaca que, em termos gerais, empreendedores podem ser jovens que acabaram de concluir seus cursos de graduação, desempregados, aposentados, executivos que mudaram de profissão, bem como todos os que desejam ter o seu próprio negócio ou se tornar empreendedores dentro de uma organização, ou seja, ser intraempreendedores.

O intraempreendedor é um empreendedor interno que tem liberdade para inovar ou criar novos produtos ou serviços através do incentivo e das oportunidades dadas pela empresa em que trabalha.O intraempreendedorismo é uma habilidade incentivada em organizações que visam desencadear inovações aproveitando-se dos talentos empreendedores dos seus funcionários.

Na área da Biblioteconomia o empreendedorismo parece ainda ser pouco disseminado. Contudo, gestores de unidades de informação com competências empreendedoras, provavelmente encontrariam melhores soluções para seus problemas. É preciso ressaltar que em quase todos os tipos de unidades de informação, em especial em bibliotecas públicas, universitárias e escolares, o bibliotecário necessita lidar com uma série de problemas relacionados, em especial, à escassez de recursos, falta de pessoal, espaço físico inadequado e má localização.

Alguns autores apresentam considerações sobre as atribuições do bibliotecário para melhorar esse quadro. Para Cotam (apud Honesco 2002, p. 4), “A instituição biblioteca precisa de gestores empreendedores, equipe de sonhadores, pessoas para quebrar a tradição e agir no desenvolvimento de novos papéis e responsabilidades”.

É certo que para haver mudanças no desempenho profissional do bibliotecário, é preciso mudar o perfil dele na sua formação. A forma como se ensina precisa acompanhar as mudanças por que passa a sociedade e dar maior importância à formação empreendedora, influenciando nas competências e dando maior capacidade autônoma aos profissionais da informação, que, segundo Valentim (2000, p. 9), devem estar habilitados a:

a) Entender como objeto de trabalho, a informação de maneira ampla;

b) Trabalhar de forma globalizada e regionalizada, ou seja, pensar globalmente e agir
localmente;

c) Conhecer e utilizar as tecnologias de informação;

d) Trazer para o cotidiano de trabalho as técnicas administrativas modernas como a
administração por projetos;

e) Criar e planejar produtos e serviços informacionais visando o cliente;

f) Planejar sistema de custos para cobrança dos serviços e produtos informacionais com valor agregado;

g) Trabalhar de forma integrada, relacionando formatos eletrônicos e digitais à telecomunicação, possibilitando o acesso local e remoto;

h) Reestruturar a estrutura organizacional da unidade de informação de forma a contemplar o cliente;

i) Disponibilizar sistemas que possibilitem a avaliação contínua e sua melhoria;

j) Estudar sistemas especialistas e inteligência artificial, de forma que estas ferramentas ajudem nos processos repetitivos da unidade de informação.

Com relação ao entendimento das bibliotecárias sobre o tema intraempreendedorismo, obteve-se as seguintes respostas:
− Intraempreendedorismo quer dizer empreender dentro de uma organização.
− É um sistema que tenta acelerar as inovações dentro das empresas, através do uso do talento dos empreendedores.
− As atitudes empreendedoras dentro de um ambiente organizacional.
− O intraempreendedorismo requer uma mudança radical na cultura interna da Unidade de Informação que permita o surgimento de novos modelos mentais para agilizar a implantação de novos projetos.
− Percebo como sendo as atitudes/idéias, projetos desenvolvidos internamente por indivíduos inseridos dentro de uma organização/instituição.
− É quando se realiza o empreendedorismo dentro do seu local de trabalho, internamente.
− Embora não tenha ouvido falar, mas acredito que seja o estímulo interno do empreendedorismo, ou seja, implementar o empreendedorismo dentro do seu próprio negócio.

Essas respostas evidenciam que as respondentes parecem ter entendimento parcial do que é intraempreendedorismo, além de terem tido dificuldades em expressá-lo, como ilustram, em especial, as seguintes falas: “mudança radical na cultura interna da Unidade de Informação que permita o surgimento de novos modelos mentais para agilizar a implantação de novos projetos”; e “implementar o empreendedorismo dentro do seu próprio negócio”.

Desenvolvimento de habilidades e competências empreendedoras 

Quando indagadas sobre a necessidade de o bibliotecário desenvolver habilidades e competências empreendedoras, as pesquisadas foram unânimes, conforme destacado abaixo.
− Claro que sim, para desenvolver meu trabalho tive que desenvolver capacidade de superar desafios, planejar, realizar ações, e estar sempre em busca contínua de informações. O mercado exige isso.
− Sim, pois este deve estar sempre atento às mudanças e para acompanhar estas mudanças muitas vezes ele tem que sair a frente com uma atividade empreendedora.
− Certamente é de extrema importância que o bibliotecário desenvolva o empreendedorismo como parte de sua personalidade profissional, pois com os avanços tecnológicos torna-se um desafio cativar o usuário leitor, pesquisador e principalmente atender as demandas: “para cada leitor, o seu livro” e “para cada livro, o seu leitor”.
− Sim, é muito importante, inclusive eu exerço atividade como autônoma.
− Sim. Pois a Unidade de Informação é um organismo vivo e crescente que necessita de
constante ações inovadoras para cumprir seus objetivos.
− Sim, pois nossa área lida com a informação e esta por sua vez necessita ser rápida e precisa, sempre atualizada. Para que isso se torne realidade é necessário que o profissional bibliotecário esteja sempre buscando novas formas empreendedoras.
− Sim, sempre de acordo com o tipo de UI em que se trabalha e entidade a que ela pertence, pois ajudam o profissional a ter melhor visão de sua profissão e inovar nos serviços prestados.
− Sim. Para que possa desempenhar melhor suas atividades, visando melhor atender sua comunidade (usuários), bem como facilitar suas atividades diárias.

Essas justificativas evidenciam a consciência que as bibliotecárias possuem sobre a necessidade de se empreender, tanto em unidades de informação, quanto outro tipo de organização em que se deseje melhorar o desempenho das atividades.

Diversas competências profissionais que hoje são exigidas de profissionais de outras áreas também são esperadas do bibliotecário, dentre elas as competências empreendedoras. Atualmente, espera-se que o bibliotecário tenha, além das competências técnicas tradicionais da área, também competências empreendedoras para competir nesse mercado mutante com maior eficácia. Nesse sentido, os bibliotecários devem estar cada vez mais preparados, a fim de poderem empreender como autônomos ou atuar como intraempreendedores nas organizações onde atuam, sendo criativos, expondo e implementando suas idéias em projetos inovadores.

Partindo dessa premissa, o bibliotecário precisa estar atento às rápidas mudanças por que passa a sociedade e desenvolver competências profissionais que lhe permitam oferecer serviços confiáveis e de qualidade aos usuários da informação. Isso independe do tipo de organização em que ele atua, pois o que importa são as suas atitudes e capacidade de se adaptar aos mais diversos ambientes.

Todavia, a pesquisa revelou que os bibliotecários em geral não exibem perfil empreendedor. Os resultados apontam que a maior parte das atividades desenvolvidas por eles são atividades técnicas tradicionais da área.

Fonte

Esta entrada foi publicada em Bibliotecário, Biblioteconomia, Empreendedorismo. Adicione o link permanente aos seus favoritos.

Deixe uma resposta