Nascido na Índia, mais especificamente na cidade de Madras, no dia 9 de agosto de 1892, Shiyali Ramamrita Ranganathan obteve como primeira formação o título de
matemático, passando a lecionar em várias das universidades locais. Sua relação com a forma de organização dos livros adveio das dificuldades que encontrava ao selecionar as publicações que lhe interessavam nas áreas de Matemática e Física, isso entre os anos de 1917 e 1924, período em que lecionava nas universidades. Contudo, no dia 9 de janeiro de 1924, ocupou a vaga remanescente de bibliotecário na Universidade de Madras e, devido a isso, teve que se adaptar à rotina da biblioteca, mais especificamente ao sistema de busca por catálogo, que trazia nas fichas apenas os nomes dos autores em ordem alfabética. Nesse ínterim, ele constatou a real dificuldade de acesso aos livros por parte dos usuários, bem como presenciou o despreparo do pessoal envolvido nos trabalhos da biblioteca, até mesmo dele, pois, até então, nunca ouvira sequer falar em classificação bibliográfica.
Pediu, então, para ser substituído, partindo rumo à Londres decidido a estudar Biblioteconomia no British Museum Library. Porém, foi alertado pelo bibliotecário do local, Sr. Frederick Kenyon, de que o curso na instituição não dispunha de métodos modernos de ensino, sendo aconselhado a ingressar na School of Librarianship in the University College. Bastou apenas um telefonema para o Sr. Ernest Baker, professor de
Inglês e diretor da School of Librarianship, para que Ranganathan pudesse ingressar de vez no Curso de Biblioteconomia. A partir de então, passou a maior parte de seu tempo contemplando a biblioteca, já que sua residência ficava próxima à Universidade, e conhecendo todas as atividades com mais afinco.
Na Universidade, ele ficou fascinado pelo ensino das disciplinas de classificação; no entanto, apenas uma o deixou insatisfeito: a Decimal Classification, traduzida para o nosso idioma como Classificação Decimal de Dewey (CDD). Ranganathan expõe, de forma bem sutil e em muitas de suas publicações, a sua insatisfação para com esse sistema. Ele afirma que todas as suas classes numéricas eram “congeladas” e não possibilitavam que um novo assunto composto fosse incorporado próximo à classe do assunto principal, ou seja, a CDD, por ser enumerativa e já possuir uma notação previamente estabelecida, criava uma barreira para incorporar assuntos ainda “desconhecidos”, em fase de desenvolvimento e/ou de pesquisa. Sua crítica à teoria de Dewey o fez buscar novos horizontes para a classificação, enxergando a multidisciplinaridade dos assuntos que compõem um sistema notacional. Segundo ele,
[…] a CDD enumerava mais os assuntos compostos conhecidos e os representava por uma fração de números decimais. No entanto, ela não poderia prover uma coextensão das classes numéricas para todos os novos assuntos que iam surgindo no século XX. Aos livros incorporados nesses novos assuntos, tinha que ser forçadamente atribuída uma numeração muito distante, e isso era constantemente difícil de ser decidido […].
Foi a partir daí que Ranganathan começou a refletir sobre qual seria a melhor maneira de ampliar o universo da classificação do conhecimento, afirmando, porém, que a CDD poderia ter suprido às necessidades da época em que fora desenvolvida, apenas para que bibliotecários e leitores aceitassem a classificação como um auxílio em suas buscas nas bibliotecas. Sua formulação teórica parte, então, da análise de que havia uma valorização exacerbada da teoria no método de classificação, esquecendo-se um pouco do lado prático dessa atividade.
Numa conversa informal na cantina da universidade com um de seus professores de classificação, o Sr. W.C. Berwick Sayers, Ranganathan desenhou um esboço do que viria a ser o seu sistema de classificação. Juntamente com o Sr. Sayers, pensou em componentes que poderiam ser seu ponto de partida, foi quando determinou as facetas “tempo” e “espaço” como suas primeiras categorias fundamentais. Ambos os estudiosos se depararam com o problema de como seria determinado o termo mais geral dos assuntos, foi então que decidiram chamar essa faceta de “personalidade”.
Ranganathan (1971) afirma ter sido assim que a base sustentadora do seu sistema de classificação começara a surgir. Ele formulara a sua teoria a partir da convivência com seu professor de classificação, mas a sua primeira prática só viera mesmo a bordo de um navio, quando ele retorna a Madras em junho de 1925.
Durante a viagem, Ranganathan coloca em prática o seu projeto piloto. O capitão do navio lhe concede autorização para que ele pudesse organizar e reorganizar os livros da forma que bem lhe aprouvesse, o que, segundo ele, mobilizou muitos passageiros a apreciá-lo e a ajudá-lo. Em seu relato, Ranganathan considera uma aventura ter reorganizado um acervo de quase 20.000 exemplares seguindo o esboço de seu sistema de classificação, concluindo o trabalho antes de chegar a Madras. Contudo, ao regressar, Ranganathan se depara com um grande desafio: colocar em ordem a biblioteca da universidade onde começara a sua carreira.