Bruna foi bibliotecária fiscal do CRB10 e agora trabalha em uma Biblioteca pública no Rio Grande do Sul. Nesta entrevista ela conta um pouco de sua trajetória, dá dicas de leituras e opiniões sobre o futuro de nossa profissão. Aproveitem!
1. Por que Biblioteconomia?
Você já deve ter ouvido essa resposta muitas vezes: “porque eu gostava de ler”, e obviamente ainda gosto. Eu era frequentadora regular da Biblioteca Pública do Estado do Rio Grande do Sul e um dia me voluntariei para trabalhar no setor de empréstimos, acabei me familiarizando com a rotina dos outros departamentos da BPERS e me informei sobre o curso de Biblioteconomia. Em 2005 prestei vestibular para a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), ingressando no primeiro semestre.
2. Qual é a sua opinião sobre o futuro da nossa profissão?
Acredito em um futuro muito promissor, já que a produção de conhecimento em nível mundial é constante e na maioria das vezes repetitiva, necessitando de um profissional especializado para gerir essa quantidade de informações, e para isso serão necessários bibliotecários capacitados, a fim de administrar, selecionar e disseminar de forma pertinente e ágil, independentemente do suporte, essas produções intelectuais aos seus usuários.
3. Qual foi o seu maior desafio no trabalho?
Até uns dias atrás eu ainda era bibliotecária fiscal do CRB10 e acredito que esse foi o maior desafio, já que eu não lidava com o “tradicional da biblioteconomia”, ou seja, eu não gerenciava bibliotecas, nem centros de documentação, não realizava o processamento técnico, nem outras atividades pertinentes à profissão. Eu tinha que ter, como fiscal, o conhecimento da legislação profissional e áreas afins à biblioteca, pois realizava a fiscalização em qualquer instituição que tivesse biblioteca no Estado, seja ela pública ou privada. Visitava de “surpresa” as instituições, através de denúncias ou rotina, preenchia questionários técnicos sobre o acervo, tirava fotos, verificava se estava regular, ou seja, se tinha profissional bibliotecário no local; e, se estava irregular, procedia à autuação da instituição. Então não é um trabalho muito fácil, já que, em geral, as pessoas te recebem com “paus e pedras”, e tenho tendência a ser muito impulsiva e tive que aprender a ter sangue-frio e manter sempre a educação mesmo que a pessoa não merecesse, pois eu não estava ali apenas como Bruna, eu estava ali representando o Conselho, a classe, e qualquer atitude impensada não prejudicaria só a mim, mas a entidade como um todo. Posso te dizer que eu já consegui melhorar um pouquinho, mas ainda sou “Bocão Royal” de vez em quando.
4. Você acha que o livro impresso vai acabar?
Duvido que isso aconteça. Conheço muitas pessoas que ainda convivem com mídias mais antigas, como o rádio e a televisão e acredito que tenha espaço para todos os tipos de suporte, sejam físicos ou digitais. Vejo ainda hoje, uma preferência muito grande pelo livro físico em relação ao livro digital, já que a leitura em ambiente virtual muitas vezes é incomôda, exigindo um pouco mais de esforço e concentração. Eu particularmente prefiro o livro impresso, gosto de analisar a textura, o acabamento, o formato, a arte representada na capa e/ou nas páginas. Além disso uma casa sem livros, me dá a impressão de ser um ambiente muito frio e triste.
5. Onde você fez sua graduação? O que achou do curso?
Fiz o meu bacharelado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. O curso carecia na época de atualizações, pois algumas disciplinas eram muito ultrapassadas, tanto em termos de conteúdo, como de pertinência. O que eu percebia e percebo até hoje é que a Academia, em geral, ainda está muito distante da realidade profissional que acomete o bibliotecário.
6. Você sempre trabalhou dentro da biblioteca? Se não, onde mais? Como foi a experiência?
Eu trabalhei em bibliotecas de diversos tipos e, como disse anteriormente, como bibliotecária fiscal do CRB10. No CRB10 a experiência foi de muito aprendizado e paciência. Com a fiscalização aprendi a lidar com todo o tipo de gente: medrosos, ameaçadores, intimidadores, arrogantes, escandalosos, etc. Quando começava o rosário de reclamações dos autuados eu sempre tinha uma resposta pronta, claro que, com muita educação e me baseando na nossa legislação.
7. Qual foi o último livro técnico que você leu? Sugira uma leitura técnica.
Olha, eu não sou muito de livros técnicos, os poucos que li foi para estudar para concursos, mas recentemente li a obra: “Biblioteca Pública: princípios e diretrizes”, da Fundação Biblioteca Nacional, para me familiarizar com o novo ambiente de trabalho ao qual me encontro: a Biblioteca Pública Municipal de Gravataí, no RS. Sugiro como leitura técnica o livro “Seleção de materias de informação”, de Waldomiro Wergueiro.
8. Qual livro você está lendo agora? Sugira uma leitura para lazer.
Estou lendo “Quarto de despejo”, de Carolina Maria de Jesus. Sugiro como leitura a obra:“Kafka à beira-mar”, de Haruki Murakami.
9. Quem é seu mentor na Biblioteconomia, por quê?
O meu mentor é o Waldomiro Vergueiro, pois eu gosto muita da temática que ele aborda, que é o desenvolvimento de coleções. Planejar acervos é uma atividade muito prazerosa para mim, assim como o processamento técnico e o atendimento ao público, através de ações culturais dentro da biblioteca.
10. Mande um recado para todos os bibliotecários do Brasil.
Pessoal, nós somos conhecidos como os profissionais da informação, mas o que acontece é que a maioria dos bibliotecários são desinformados em relação à própria profissão, o que seria irônico se não fosse triste. Então vamos tentar fazer jus ao título, antes de criticar e cobrar soluções de conselhos, associações, sindicatos, procurem se informar da competência de cada um, o que podem ou não fazer, como são geridos, para onde vai o dinheiro da anuidade, etc, procurem conhecer a nossa legislação profissional, para saber dos nosso direitos e deveres e procurem participar mais das entidades de classe, pois quem quer mesmo mudar alguma coisa, levanta a bunda da cadeira e faz, não fica só reclamando.