[ENTREVISTA] Bibliotecária Marcela Bassoli

Marcela Bassoli, bibliotecária e mestranda na UFSCar, conta um pouco sobre sua experiência na empresa júnior, bibliometria, principal assunto de sua dissertação e dá bons conselhos para quem está embarcando agora na Biblioteconomia. Aproveitem mais uma entrevista enriquecedora do Portal do Bibliotecário.

1. Por que Biblioteconomia?

Sempre adorei ler e escrever, e na escola era sempre a aluna com a maior ficha na biblioteca e que ficava o recreio todo por lá. Nunca tinha pensado em ser bibliotecária, e no meu primeiro ano prestando vestibular, eu escolhi o curso de Economia, mas não passei. No ano seguinte, já havia desistido de Economia e  estava propensa a escolher um curso de Jornalismo ou de Letras. Foi numa busca dos cursos da UFSCar que me deparei com a Biblioteconomia e resolvi arriscar. Sem muita ideia do que seria o curso, das possibilidades de emprego, das disciplinas e de todo o resto, decidi estudar numa das melhores universidades do país, e me dei a oportunidade de compreender todo o universo que existia por trás das bibliotecas.

2. Qual é a sua opinião sobre o futuro da nossa profissão?

Acredito, que como em todas as profissões, chegamos num momento em que é preciso estar atento as demandas. Desde muito nova ouvi que não bastaria um diploma para que eu fosse uma boa profissional e tivesse um bom emprego, e, pra mim vivemos isso mesmo. Existe uma demanda no mercado de profissionais interdisciplinares, capazes de lidar com eficiência e eficácia com o fluxo de informações, com o controle e organização de dados, acervos, documentos, com clientes (e não só usuários), com as tecnologias, e mesmo que essas vagas sejam fora das bibliotecas e não venham direcionadas para bibliotecários, vejo muitos com as competências necessárias para assumir essas funções. Existe também a demanda por aqueles profissionais engajados no processo educacional, na parte técnica das bibliotecas, na disseminação seletiva da informação e existem outros tantos bibliotecários com essas competências. Cabe a cada um descobrir qual a sua vocação dentro da área, estudar para os concursos, participar de encontros, discussões, e se preparar para a complexidade do mundo que vem depois da graduação.

3. Qual foi o seu maior desafio no trabalho?

Sem dúvida, meu maior desafio ainda é compreender as nuances que variam de área para a área no desenvolvimento de indicadores de avaliação científica. Aliando minha experiência da graduação, minha pesquisa no mestrado e as variáveis de cada projeto que faço parte tenho construído uma noção do meio científico no Brasil e da importância da bibliometria para a avaliação da produção científica, de como as análises puramente quantitativas não são justas, de quais são os principais indicadores de qualidade, quais os fatores favorecem o desenvolvimento de boas pesquisas, e como as diretrizes da Capes influenciam todo o processo da pós-graduação e de como o campo científico é moldado pelos grupos de pesquisadores mais ativos.

4. Vi que você participou da Empresa Júnior de Biblioteconomia e Ciência da Informação da UFSCar, conte um pouco dessa experiência, que tipo de produtos ou serviços vocês forneciam, quem eram os seus clientes, etc?

A InfoJr é uma empresa pequena, se comparada com as demais empresas juniores da UFSCar, mas é bastante representativa dentro do curso e do Departamento de Ciência da Informação. Quando comecei a participar das reuniões e dos projetos a empresa estava passando por um processo de mudança de identidade. Nos primeiros anos, os principais serviços oferecidos iam no caminho da normalização de trabalhos acadêmicos e em determinado momento, sentiu-se a necessidade de ampliação do alcance dos projetos. Então passamos por um processo de identificação de demandas, necessidades e possibilidades de mercado e identificamos duas chances de atuação. A primeira, para suprir uma demanda interna se manifesta hoje em forma de um Workshop anual, no qual abordamos assuntos pertinentes ao mercado, novas práticas da área, tendências e etc., e em forma do que chamamos de Café Bibliosófico, onde um profissional atuante tem a oportunidade de compartilhar suas experiências com os alunos.  A segunda chance de atuação, pensando além do curso e do departamento, é o oferecimento de serviços de organização e catalogação de acervos, levantamento bibliográfico, atualização de currículo lattes, e a própria normalização de trabalhos acadêmicos, lembrando que cada gestão direciona a empresa segundo as competências de cada equipe.

5. Onde você fez sua graduação? Como foi o curso?

Fiz na UFSCar, onde o curso é de Biblioteconomia e Ciência da Informação.  O curso tem o complexo objetivo de abranger os conhecimentos técnicos inerentes a profissão, bem como de desenvolver em seus  discentes um espírito pesquisador e construtivo, levando em consideração sempre a interdisciplinaridade da área. Desde o primeiro semestre tivemos professores que trouxeram para as aulas o debate a respeito dessa vertente do curso, e as vantagens de se estudar a Biblioteconomia pautada na Ciência da Informação. O curso cobre as diversas linhas de pesquisa da área, como Representação descritiva, Linguagens Documentárias, Memória, Bibliometria, e outras que eu certamente esqueci de mencionar. Considero o curso bastante atualizado, com vários docentes preocupados com uma constante adequação das aulas, engajados em trazer diversos eventos, simpósios e palestras para abordar temas além das disciplinas, acolhedores e, além disso, conscientes da necessidade de oferecer atividades de ensino, pesquisa e extensão dentro de uma universidade federal.

6. Você sempre trabalhou dentro da biblioteca? Se não, onde mais? Como foi a experiência?

Na verdade não. Minha única experiência de trabalho dentro de uma biblioteca foi durante meu primeiro estágio, onde fiquei dez meses trabalhando em uma biblioteca especializada e foi uma experiência bastante enriquecedora. Contudo, no meu terceiro ano de graduação tive a oportunidade de estagiar em uma secretaria de pós-graduação e foi ali que eu comecei a desenvolver trabalhos de análise bibliométrica e construção de indicadores para a avaliação da produção científica dos docentes e discentes de pós-graduação. Desde então tenho feito análises, relatórios, e indicadores – seguindo principalmente os critérios de avaliação usados pelas Capes – de diversos programas de pós-graduação e, tem sido bastante desafiador.

7. Qual foi o último livro técnico que você leu? Sugira uma leitura técnica.

Tenho lido, especialmente por conta do mestrado, muito mais artigos científicos do que livros, mas li recentemente Pedagogia da autonomia, de Paulo Freire, para uma discussão na disciplina de Prática de Ensino que cursei na UFSCar. O recomendo para todos aqueles que tem o objetivo de fazer parte do processo educacional.

8. Qual livro você está lendo agora? Sugira uma leitura para lazer.

Estou lendo bem menos do que gostaria ultimamente por causa do mestrado, e tenho uma pilha enorme de livros para ler. Os mais recentes da pilha são os da coleção do Harry Potter, e no ano passado me rendi a várias trilogias de distopias. Minha favorita e não tão conhecida é a trilogia Estilhaça-me, da norte-americana Tahereh Mafi, indico para aqueles que gostam de ficção jovem-adulta, com personagens intensos.  

9. Quem é seu mentor na Biblioteconomia, por que?

O Professor Dr. Leandro Inocentinni Lopes de Faria, da UFSCar, que foi quem me apresentou a Bibliometria durante a graduação, que me incentivou a questionar os indicadores, os critérios e todos os padrões estabelecidos, e que tem me orientado durante o meu mestrado. E tenho sido também bastante influenciada pelos docentes do Programa de Pós-graduação em Ciência, Tecnologia e Sociedade da UFSCar, que me fazem sempre refletir nos aspectos sociais e no papel do pesquisador na sociedade.

10. Mande um recado para todos os bibliotecários do Brasil.

Sejam bons. Não importa onde vocês estão trabalhando, se é em uma biblioteca pequena, ou em uma empresa multinacional, sejam bons. Trabalhem bem, encontrem motivação nas tarefas diárias e não se acomodem fazendo um trabalho mediano. Cumpram suas funções com cuidado, atendam as pessoas com atenção e estejam atentos as necessidades informacionais dos outros e busquem ajudá-los. Um bom bibliotecário muda a vida das crianças, facilita a vida dos universitários e resolve problemas dos adultos. Sejam sempre bons.

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